sexta-feira, 22 de maio de 2009

Meu primeiro Epílogo

As pernas fatigadas de tanto correr, os braços trêmulos de esgueirar seus olhares. A boca seca com o coração acelerado. É, de fato, hora de parar. Cessam, enfim, as palavras e os trocadilhos. A poesia já não é forte o suficiente e os sonhos sucumbiram à realidade. É tempo de perceber, está na sua hora.
Junte suas poucas tralhas e não esqueça do seu livro de bolso. Vire-se, bata a porta. Faça isso sem raiva, leve seus bons pensamentos e os guarde na gavetinha de tantos outros. Perdeu todo os seus indizeres, toda a sua surrealidade. Não encanta como encantava antes e não tem mais os poderes dos dizeres, levares e arrastares que já te competiram.
Vista-se. Coloque aquela blusa vermelha, mochila nas costas e não olhe pra trás. São tantas decisões. Deixarás seus olhares, suas poesias, seus sentimentos. Deixarás que escorra tudo e que ao fim os feitios de lágrimas sequem.
É tempo de procurar uma nova música, novos motivos. Mais que isso, novas cores. É tempo de procurar a ti mesma, trazer a tona novas batidas, novas tequilas e catuabas.
Da mesma forma que lhe esbarrei, irei lhe repelir e impelir.
Já disse o que tinha de dizer. Afinal, bebo em goles esse vinho e volto logo para o tango, os portenhos me clamam.

quarta-feira, 20 de maio de 2009

Flashes

Quem não tem um Ricardo na vida? Meu sempre problema tem nome, é o mesmo da minha sempre solução. Como ninguém, lê meus sorrisos e lembra de detalhes que eu mesma ignorei.
Faz tempo que sois assim, tão meu. Nunca perdeste o prumo, com todas as suas tantas e eu com todos os meus tolos. E hoje te esbarro em meus trocadilhos, te lembro em caixas guardadas, te explico em minhas incertezas.
Não é possível, afinal, que depois de tanto tempo haja motivos pra ceder-lhe meu tempo e meu sorriso. Não é possível que isso lhe baste. E não basta. Te encontro perdido, divagando nos meus pensamentos, pelas ruas de São Paulo e pela estrada de Nova Lima.
Te chamo de amor, e sei que cada vez que volta do bater, toma mais força. Dessa última teve o prazer de me encostar na parede, na próxima revolverá suas costas no assoalho. É assim, você volta, você vai. Sempre deixa pra mim as certezas de um dia ser e estar. Parecer, permanecer, continuar, ficar, tornar-se. Como, se, um verbo de ligação.
Ainda tens aquela foto?
Ainda lembras daquele sofá? E de meus dedos? E dos cabelos? Ainda te lembras do número que chamava? Ainda lembra do medo e do arrependimento? E, ainda, será que ainda lembra de ser quem me tirou os bons costumes?
Depois de você, eu nunca mais fui a mesma. Menos mal.

Ki versão III

É difícil ter a certeza que nunca viverá aqui. Saber de sua presença em minha ausência desconsola minh'alma e me traz um brilho que não te faz feliz. A maior decepção é saber que todos os nossos lugares são os lugares em que estaremos por únicas vezes. Salas, quartos, cozinhas, bares, praias, as únicas vezes. Não ousaria repetir você, porque seria inevitável a overdose. Depois de outra só me restaria a última viagem.
Sinto saudade de nossas delícias. Quando é que você vem?

terça-feira, 19 de maio de 2009

Pré-Epílogo

É bonito falar palavrões em momentos repletos de alma.
Mas não é disso que eu quero falar... A verdade é que preciso de achar os pontos finais pra mim mesma. E antes disso há que se dar espaço para a respiração e possíveis respostas.
Então, aqui estou me rendendo as minha pobres tentativas de despertar-lhe algum verso.
Foste tudo aquilo que não sei dizer. Ainda és quem me tira o sono e que me faz procurar pelos rostos na rua, no shopping, na faculdade. Sei de ti por perto antes de te veres e sinto seus olhares, todos eles.
O curioso desse tempo é que foi um não-tempo. E tantos versos que são prosa que nem sei mais onde ficou a minha poesia.
O cabelo ainda cai na cara, e se segura em seus fios. E sempre vem uma avalanche no meu estomago, quando te abraçar é inevitável: nunca soube o que pensaste. "Ah!, os teus abraços. Dedicaria um capítulo inteiro a eles".
Aliás, uma vez perguntei o que esperava de mim. Poucas, curtas e suficientes(?) palavras vieram em resposta: "que você me entenda". A questão é que deixei de entender, isto é, se é que já entendi algum dia. Me entrego a todos os seus verbos, e quando me cabe o mínimo, sou suficientemente explícita. Mas nunca mais se deu ao trabalho de se mostrar, se dizer. Mais que isso, se demonstrar. Que curioso. E aqui, peço que, se é que me lês, se é que me respondes em suas incontáveis metáforas e outras tantas figuras de linguagem, se é que ainda espera algum suspiro de meus alvéolos, se é que não se ilude ou me ilude. Se é que queira, que valha a pena que não deixe que as notas de vosso saxofone incendiário se percam de todo, no nosso tempo. Que já nem sei mais se existe.
Peno por não ter seus versos e suas teorias vagas. Desacredito que viver assim seja melhor. Mas é, indiscutívelmente, menos emocionante.
Espero seu consolo e suas atitudes. Te espero em todos os degraus, rampas e corredores.
Nunca pedi-lhe a conta, ou a paguei sem maiores explicações. Se é que me lês, talvez tenha lido com os olhos errados, querendo ou não, você não ocupa todos os meu olhares e divagações.
Espero que tenhas o bom senso de seres, ao menos uma vez, aquele que desejaria que fosses. Isso é, se você ainda for aquele que pensei que seria.
Sinal de fumaça é um bom começo?

domingo, 17 de maio de 2009

"Quem sabe a morte, angústia de quem vive"

É tempo de reconhecer. As céulas realmente oxidam, e os neurônios são tão fulgazes. Foste, você também, não é mesmo? Não é possível que não saibas que serás meu anjo, que guiarás meus versos e serás toda a crença do meu abandono.
Perde-se a viscosidade, o ânimo. Mas o pior de tudo: perde-se as lembranças. Elas ficam guardadas em caixas de cartas antigas junto fotos envelhecidas. Perto de papéis de balas e guardanapos com recados. Foste, enfim, seu fim, nosso fim. Afinal, se foi.
E aqui, espero que mantenha sua sanidade, que continue de longe com seus olhares e seus sorrisos. Mais que isso, que ainda murmure suas notas ao meu ouvido e que consiga me trazer a paz quando lembrar de ti. Foste em paz. Encontrar tantos outros que me recordo com carinho, mas que como ti, não são mais. E não voltarás, sendo sincera, que bom que não o fará. Afinal, já foram muitas noites de fantasmas.
Ainda te guardo em meu sangue e sempre saberei sua melodia e seus sorrisos.
Peço que, de longe, não abandone meus pequenos sonhos. Nunca mais repousarei a mão sobre a tua ou ela em teus cabelos. Nem deixarei minha cabeça cair ao lado da sua enquanto passa alguma coisa na televisão ou o vinil toca alguma coisa. Não andarei mais sob o céu de vagalumes, deliciando aqueles momentos. E nem me irritarei com seus sistemas. Acreditarei que disse toda a verdade, e lembrarei com carinho das suas piadas.
Cada açúcar que eu comer terá seu sorriso. Serei fiel às nossas lembranças e samambaias.
Sentirei saudades, mas não serei a única.
E assim, quando mais tarde me procure
Quem sabe a morte, angústia de quem vive
...
Que não seja imortal, posto que é chama
Mas que seja infinito enquanto dure
Vinícius de Morais

quinta-feira, 14 de maio de 2009

Duvido que me perguntou sobre o fim do nosso tempo

Desligou o barulho do vinil. Sentou ao pé da cama, sempre estava em seus olhares. Sacou o violão como quem tira um isqueiro do bolso. Desse jeito mesmo, virou-se pro corpo inerte que se recompunha de sua 'petit mort'. Entoou as cordas como quem dedilha as curvas femininas.
Era uma cena bonita até. Lençois brancos, costas nuas. Valiam-se de poucas roupas de baixo. Olhos cerrados, a chuva ainda fazia o som de fundo. Enfim foi acordando, logo seria a alvorada. Claro que preferiria ficar por ali, surrealidade e realidades paralelas. Faz parte desse impossível de todos os dias.
Com pulso, foi fácil levantar e rancar-lhe das mãos o portal de melodias. Não precisou de muitas palavras pra se fazer entender. Beijou-lhe quente, molhado. Sentiu aqueles lábios como se nunca os tivesse conhecido. Tombou seu corpo, deixou-se cair na cama, denovo. Era nova, inteira, talvez apaixonada.
Deitou-se com ela. E, por um tempo, ficaram em silêncio. Por suspiros, voltaram a falar de pensamentos fugidios e vagos. Era, enfim, hora de ir pra casa. E o primeiro beijo a gente não esquece, nem o primeiro beijo de despedida.


Há quanto tempo foi isso?

quarta-feira, 13 de maio de 2009

Inesqueoque?

Empanturrei-me de olhares longes. É, enfim, o fim do meu gosto. Ela disse bem "é gostoso no início, depois cansa". Bastardo, sabes me trazer pra perto, e gosta disso. Ridículo: reconheço meus olhos procurando suas blusas pelas ruas. Mesmo quando saberia que não seria e que não estaria. Ainda o faço, fazer o quê?
É, enfim, o fim de meu tempo. Foi dada a largada para do início do fim: falta tempo pra gozar da vida e minhas tardes quentes são muito mais monótonas que poderiam ser. É uma pena o trabalho, enfim, adoraria viajar dias seguidos. Claro, que, não dispensaria boas companhias.
Amigo, é cruel: a vida ainda imita a vida. Escolhi os caminhos que me encontram, quem sabe um dia não chego em algum lugar? É assim que vamos, cheias de matérias, pensamentos, sentimentos. Com infinitos passos pra saber e inúmeras sequências pra experimentar. São momentos em que erros não são admitidos. É, enfim, tempo de ser quem não quero ser, mas preciso. Será possível que alguém pode me devolver o tango e o vinho?

segunda-feira, 11 de maio de 2009

Abafo

Existem momentos que não se propoem a ter qualquer sentido. Depois de toda a desordem das desventuras existe, enfim, um momento de sussego. E aí mora um perigo bem peculiar: você, enfim, se presta aos detalhes. E eles dizem muito, sabe?
Ver além do óbvio, é um dom que cabe aos puros de espírito. E sei que perde o caminho e só vê o que quer e precisa. Precisar, que ridículo.
No frigir dos ovos, é um babaca. Diz de sentimentos que nunca teve e nega a própria alma. E as minuciosidades resplandecem que o gênio não realiza os desejos, é uma muralha contra os sonhos. Estampa a solteiridade, e enfim presto-me a dizer que nunca foi O certo. Quis que fosse e traí meus olhares, os filtros quebraram.

quinta-feira, 7 de maio de 2009

Ki versão II

E, no final do dia, o que me ocorre é que tudo vai bem.
Enfim, há qualquer coisa de luz no fim dos túneis. Escolheste vários, não é mesmo? Há que se saber motivos pra continuar sem grandes paixões. Por vezes, essas atrapalham. Não que seja melhor viver sem elas.
Mas, de fato, meus olhos me traem. Pesam as pálpebras, perco-me no fardo de meus livros e cadernos que arrasto por onde vou. As pernas já não reconhecem os contratempos do seu gingado, e só sei que uma vez mais desvelo que sou assim mesmo.
Ai, se aquela cera tivesse lhe queimado a face. Seria muito menos difícil, não sabes?
Quisera tivesse sido um dia chuvoso e frio, não ousaria cruzar as areias pra degustar seu sorriso e seu perfume. Sei que andas por aí,... Nunca me perderás de vista, não é mesmo?
Mas um dia eu vou, subo no Panteão e você vai jurar que sois a mais benta que já beijaste.

terça-feira, 5 de maio de 2009

A vida imita a vida

O engraçado é que só funciona quando não queria que funcionasse. Mais uma vez meu passado vira destino e eu penso que foi do mesmo jeito, só que dessa vez a vida não me esbarra por aí nos meus própios pés e calos.
Sabe quando 'não' quer dizer 'sim', quase nucna me acontece. Mas esses dias aí pra trás teve um monte disso. É quando é indiferente, mas você quer, sabe que não deve, e tem certeza que não vai, mas como quer. Ah! Se quer. Com emoção ou sem emoção? Claro que com, a vida não tem graça se não for assim, não é mesmo? E administração, de repente, me parece uma boa idéia.
Queria viver em ponte aérea, tenho saudade de sensações.
Ainda assim, o passado preludia o futuro até com alguns mesmos personagens, pena que só entende o quer quando não deve: ainda estou procurando o tiro, até mesmo a arma. Foste mais infiél que teus sonhos. Já eu, fui a ti mesmo.
Sabe-se lá se houve razões pra que eu me buscasse. E se houve o fim dos tempos. Sempre é tempo de viver os sorrisos e abraços. Talvez eu ainda sinta sua falta, talvez teu perfume ainda esteja impregnando meu cabelo e minha pele.
Ainda não sei esquecer aquelas noites. Mas a tal tarde quente (e depois, a noite melada) faz-se mais real que os versos, por vezes, incompreensíveis e sem destinatário. Ainda és o único a quem me permito a surrealidade. Por que me iludo?

domingo, 3 de maio de 2009

Crepúsculo às avessas

E aqui estou eu quase duas da manhã na noite carioca, ignorando a batida de funk que ecoa pela cidade. Negligênciando os sambas da lapa e tentando descrever em sensações (e para tanto, palavras) o dia de hoje.
Pra início de conversa uma constatação: ex bom é ex morto. No mais, os calores são capazes de tirar-me do meu lugar comum, levar a realização dos sonhos até minhas mãos e boca e ter a certeza que existe alguém que pode te fazer feliz como aquele outro um dia te fez.
Só tive certeza disso quando consegui por um tempo relativamente grande esquecer do meu menino dos olhos castanhos. Era um novo, nem tão novo, sorriso. Juro que não me embrulhei inteira porque ainda me preocupo em algum nível com meus sempre amores. Desses que a gente nunca abandona. Mas é provável que meus inconsolos mudem de foto. E que agora falarei de uma tarde quente com muito mais entusiasmo que das noites com penumbras.
Se é cedo? Claro que sim, o dia nem raiou ainda...