domingo, 7 de junho de 2009

Para os anos

Ela nunca mais brincou de roda. Fez das suas tranças um rabo alto e bem apertado, aposentou os vestido soltinho e coloridos, aderiu a moda do salto alto. Os seus todos elásticos já não lhe prendiam mais os cabelos e nem serviam mais pra seus tantos pulos, ela já não usava esmaltes claros e nem suas bolsas de pelúcia.
Tornava-se, enfim, uma mulher que não distinguia mais os sentimentos, havia tempo que perdera sua purpurina de criança. Valia-se de batons vermelhos e maquiagem fortes. Tinha vários sorrisos, todos maliciosos. Sua alma desaprendera, enfim, como sorrir e seus olhos marcavam toda a sensualidade daquela mulher.
Nunca consegui me apaixonar por ela, apesar da magnitude e dos feitios. Ela não tinha aquilo tudo que me era fundamental, por fim, não me seduzia. Tirava-me o sossego e eu perguntava pra onde tinha ido o vendaval de emoções que ele costumava ter. Ah, nunca mais ela foi a mesma.
Quando beirava os vinte anos tinha todos os brilhos e tornava-se, indiscutivelmente, o centro das atenções. Rendeu-se ao trabalho e as obrigações depois daquela noite mal velada. Eu segui minha vida, até rápido demais: encontrei outras, busquei novos motivos e versos, continuei, mas sem nunca perdê-la de vista. Sabe, eu gostava de olhá-la, e por isso que sei que ela foi perdendo as pequenas alegrias e paixões.
Sabe-se lá quando rompeu de vez esses elos todos, mas não acredito que ela tenha se perdido tanto de si mesma. Tão vil, tão mulher, e sempre resplandecente. Mas hoje é sem aquilo que lhe era fundamental: os seus tantos momentos espontâneos que faziam dela a única que me ocupava o pensamento.

Um comentário:

Renan Camponez disse...

Ah.. O dom da palavra....
Fantastico como sempre eh Leka.... Parabens! :)