sábado, 13 de dezembro de 2008

Caso do quase acaso

É claro que ventava.
Pelo vidro do carro ela conseguia ver as árvores da praça balançando no ritmo das batidas do seu coração. Além das árvores, a iluminação pública fazia com que ela só visse a silhueta dos seus traços.
O suor que então lhe escorrera o corpo já estava seco, e agora incorporava os cheiros que criavam aquela atmosfera.
Mas nada poderia ter lhe assustado mais do que aquele beijo, daquele jeito. Ela esperava que algum trato verbal fosse velado antes e qualquer impulso. E teria sido impulso?
Em todo caso, o primeiro beijo a gente não se esquece. Passavam das cinco da manhã e palavras não bastavam pra viver aqueles sorrisos, desejou que o tempo parasse e que não amanhecesse.
Quisera poderem ter acordados juntos. Não por menos, viram o céu amanhecer e, enquanto fechavam os olhos se enganavam por alguns minutos que ainda era noite.
O difícil era conseguir despedir e ela implorava que ele dissesse que a deixava ir. Em vão. O tempo que não parou continuou trazendo luz pro dia. Começavam a transitar pessoas pelas ruas e ouvia-se o murmúrio do vento suspirando que era hora de dormir.
Em todo caso, o primeiro beijo de despedida não se esquece.