sexta-feira, 12 de dezembro de 2008

Dos outros patamares.

“Sempre que me acontece alguma coisa importante, está ventando”, costumava dizer Ana Terra. Mas, entre todos os dias ventosos de sua vida, um havia que lhe ficara para sempre na memória, pois o que sucedera nele tivera a força de mudar-lhe a sorte por completo. Mas em que dia da semana tinha aquilo acontecido? Em que mês? Em que ano?
Érico Veríssimo

Não era mais, nem nada menos que um sonho.
Nesses dias quentes, por vezes, a nossa consciência nos submete à delírios. Delírios tão quentes quanto o dia. Não que faça muito sentido, mas indiscutivelmente surreal foi aquela história toda.
Algo parecido com aquilo que Veríssimo - o Érico - escreveu sobre o vento e as coxas.

Ao fundo o grito do vento envolvia os cabelos dela e a repiração deles.
Ela fazia uma trança com as pernas e enganava aqueles que pensavam que ela estava louca ou bêbada. Ele cheirava o vento e sentia o cheiro dos cabelos dela chegarem ao seu paladar. E acreditem ou não ele degustava toda aquela cena, com toda a beleza que ela tinha.

Tinha um tanto de sombras e névoa. A melhor parte era a luz amarela que enganava os olhos da lua. Tinha também uma luz vermelha dessas que parecem de motel. E essa luz, meus amigos foi o centro da história.

O sorriso dela em baixo da tal luz vermelha foi capaz de roubar-lhe o controle e a sanidade. Ele pouco se importou se era público. Certeza de que ela queria ele não tinha, e como teria se ela, mistura de anjo e flor, não havia falado ainda? Ele só sabia de seus olhares, e desses ele tinha certeza.

Golpe de sorte. Ele levantou, ela fingiu não ver. Ele caminhou em câmera lenta em direção a ela: o tempo parou, as pessoas pararam de viver, a única coisa que se via eram os dois. Os dois que se sentiam. E os cabelos? Só o vento que não parou. Sentiu-se o cheiro, e ele vinha com aquele ardor de vinho tinto, argentino.
Tudo fazia parte do tango.

O resto foi isso mesmo. Nunca se ouviu tão bela música sem sequer uma nota.

O fato é que nunca foi tão profundo, e vestidos ao avesso à parte.
Conto-lhe, apenas, do beijo que ela lhe deu. É desses que não se escreve: nem poeta e nem mortal.

E sobre o sonho? Permito-me continuar sonhando.

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