quarta-feira, 17 de dezembro de 2008

Fim de dia, pro dia que é noite.

A hora era qualquer uma depois das cinco e antes das seis.O que deu início aos prazeres que se seguiram era o fato de que suas pernas e braços latejavam. Ela dizia que nada mais justo que isso, depois de tanto tempo trabalhando. Tirou, com um cuidado exemplar, o casaco que lhe cobria até o joelho. Tirou o scarpã-envernizado-bico-fino preto que calçava. Ficou com receio de desabotoar a calça na frente da janela. Fechou as cortinas brancas e, enfim, acendeu a luz do quarto.Desabotoou-se. Recostou na cama daquele jeito mesmo e de olhos fechados tateou o tocador de discos. Quase que de repente,um som qualquer rompeu o silêncio velado.Deixou-se ficar por alguns minutos com a cabeça colada no lençol, uma das mão emoldurava o seu rosto, a outra atestava a respiração ofegante que seu peito carregava.Desistiu da posição, levantou-se e deu início ao ritual de troca de personagens que consistia a troca de roupas. Tirou a calça com um certo descuido que ouviu-se o ruído do jeans roçar em sua pele. A bata decotada verde claro que vestia escorreu pescoço abaixo quando ela desatou o nó que a segurava junto à sua nuca.Revelou-se o corpo semi-nu. Só com aquela calcinha branca de algodão.Passeou pela casa, abriu uma garrafa de vinho tinto, que respingou no algodão branco que vestia.A música mudou de tom, e qualquer coisa como uma milonga entrou no corpo daquela mulher. Ela recostou-se, daquele jeito mesmo numa poltrona de couro preta que estava no seu caminho. Pôs a garrafa no chão e adormeceu, tão só como se nunca tivesse passado a noite com seus melhores sonhos.Sobre o fim da troca de roupas... É melhor que ela não transitasse tanto por suas funções, que ela continuasse sendo uma transição e que não se fechasse nas definições.

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